Em conversa informal, a Diana Regal da Colecção B contou-me um dia que estava a levantar um projecto de aproveitamento de lãs cuja utilização é tida como economicamente inviável. Uma Oficina do Feltro, inspirada em métodos ancestrais, embora não especificamente locais ou nacionais. Fiquei logo com vontade de fazer algo sobre e com essa vontade de fazer dela. A coisa veio a concretizar-se no passado Primeiro de Maio, em Viana do Alentejo, com a colaboração do coral feminino da vila. Este vídeo, realizado em parceria com o meu companheiro Saguenail, retrata um encontro entre feltradoras, cantadeiras e cineastas, sendo que nenhum destes grupos espera licença ou legitimação para fazer o que faz. Nesse sentido é um vídeo político. Este vídeo - e nada disto é por acaso - retrata uma espécie de ensaio geral para o que viria a ser a aventura de fabricar este tapete que pisamos neste momento, neste lugar. Mas não se trata apenas disso. Trata-se de falarmos, com os meios que temos ao nosso alcance, do saber fazer e do querer estar. Trata-se de fazer sonhar com um estar mais pleno, colectivo e comunitário. Trata-se de fazer desejar um estar fora de casa e longe do sofá onde se morre frente à televisão. E de um estar que convida à migração - coisa bem diferente da tão badalada flexibilidade na flexissegurança, injúria à inteligência que jorra da boca do nosso primeiro. Trata-se de convidar, não ao story-telling dos reality shows, mas aos diálogos que desconstroem a vida e aos contos que não deixam pedra sobre pedra. Tapete, pedra de canto, retomando uma expressão de Nemésio, que era um exilado de outras partes, como todos nós somos exilados do paraíso, com a agravante de termos sido despojados da utopia e privados de esperança num futuro melhor a fabricar com estas nossas mãos. Mas este tapete será pedra de conto, pois que se prepara para voar de palavra em palavra e de boca em boca. Canto do conto para fazer sair lobo e cordeiro da toca.
* Regina Guimarães em Setembro 2008
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