sexta-feira, 4 de junho de 2010

INSTALAÇÃO DE FELTRO EM ARRAIOLOS



“de cabeça para baixo” ou “de pernas para o ar”

Que nome dar a esta instalação? Tapete voador é o que me ocorre, pois alude aos tapetes de lã, também aos de Arraiolos, aqui de lã feltrada em vez de bordada, repousa sobre a nossa cabeça em vez de repousar sob os nossos pés, vela o céu em vez de esconder o chão, apresenta-se com a cor natural em vez dos tintos profundos, e parece levantar voo e levar-nos pelo bico, como cegonha a entregar o menino.
Mas se nos colocarmos de cabeça para baixo ou de pernas para o ar…

Ao criarmos uma narrativa, logo uma relação, em torno dos produtos artesanais que fabricamos, é nosso desejo colocar um grãozinho na engrenagem dos mundos onde tudo está à venda e colocar na mão de quem os frui um pedaço da história do saber fazer antigo e um bocado do prazer do fazer agora.
A ciência permitiu-nos tocar de perto aquilo que a poesia há muito suspeitava, a saber: a presença do infinitamente grande no infinitamente pequeno e vice-versa. E é também por isso que acreditamos que cada matéria é portadora de formas antigas, esquecidas, extintas ou silenciadas. Talvez seja portadora de futuras formas. Cada fio de lã transporta em si a memória da transumância, enquanto forma original de relação do homem com o território, do homem com os animais, do homem com a sua inesgotável solidão. Não se trata pois de ressuscitar passados, mas de apurar a nossa capacidade de escutar as coisas, a fim de que elas deixem de ser objecto de pura predação e as possamos transformar em bem comum.

[Regina Guimarães em Setembro de 2008, sobre a Oficina do feltro]



Festival Escrita na Paisagem 2010
Um projecto Colecção B - Oficina do Feltro
Coordenação: Diana Regal
Produção do Feltro e Montagem: Patrícia Galego
Montagem e Direcção técnica: Elisa Pinto