terça-feira, 3 de março de 2009

Compra Culta

Artes da Terra


Comprar e comparar: eis duas palavras com a mesma origem latina. Não são longínquos os tempos em que cada compra merecia excursões a vários pontos de venda e muita conversa de mercar pelo meio. Ao criarmos uma narrativa, logo uma relação, em torno dos produtos artesanais que fabricamos, é nosso desejo colocar um grãozinho na engrenagem dos mundos onde tudo está à venda e colocar na mão de quem os adquire um pedaço da história do saber fazer antigo e um bocado do prazer do fazer agora. E que saber e prazer possam inspirar valores de uso e vontades de usar que não se esgotem no triste valor de troca...
A ciência permitiu-nos tocar de perto aquilo que a poesia há muito suspeitava, a saber: a presença do infinitamente grande no infinitamente pequeno e vice-versa. E é também por isso que acreditamos que cada matéria é portadora de formas antigas, esquecidas, extintas ou silenciadas. Talvez seja portadora de futuras formas. Cada fio de lã transporta em si a memória da transumância, enquanto forma original de relação do homem com o território, do homem com os animais, do homem com a sua inesgotável solidão. Não se trata pois de ressuscitar passados, mas de apurar a nossa capacidade de escutar as coisas, a fim de que elas deixem de ser objecto de pura predação e as possamos transformar em bem comum.
Regina Guimarães

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